domingo, 7 de agosto de 2011

4 Grounded Theory e análise de discurso online

Desenvolvi a parte sobre análise de conteúdo no trabalho conjunto sobre este tema por isso ficam aqui apenas algumas pontas soltas sobre o desenvolvimento da Grounded Theory (GT). Uma nota apenas para a referência à classificação dos procedimentos da análise de conteúdo como abertos em Ghiglione & Matalon (1992, pp. 181 e ss) que é mais uma fonte que comprova (saturação? ;-)) esta distinção base e deveria ter sido adicionada ao trabalho.

Uma questão que merecia ter mais desenvolvimento na discussão foi a do critério de saturação na GT. A sua problematização permite compreender as particularidades do paradigma qualitativo de investigação mas também algumas das suas fragilidades, nomeadamente a dificuldade de controlo ou certificação (da qualidade) da investigação. Na verdade, andam lado a lado. A saturação é o análogo da prova na GT. As críticas apontam para o facto de ser um critério difícil de usar objectivamente, em suma, a subjectividade (Guerra, 2006, p. 39). Na série de vídeos de Graham Gibbs sobre a GT



é levantada essa questão, a propósito do critério da saturação: deixamos de encontrar novidade mas como saber se isso não se deve à exaustão ou limitações do(s) investigado(res)? Procuram-se critérios objectivos: quantas entrevistas devemos fazer, 15 chegam?

Vejamos como é defendido o critério de saturação.
Um artigo de Suddaby (2006), a partir da análise de artigos que afirmam utilizar GT , recenseia os erros principais de que padecem, a saber: fazer GT não é uma desculpa para não fazer revisão da literatura, não é a apresentação de dados não tratados, fazer não é testar teorias, fazer análise de conteúdo ou contar palavras, não é aplicação de mecânica de técnicas formulares a dados e não é um desculpa para a ausência de qualquer metodologia. A defesa do critério faz-se na sua inserção no paradigma qualitativo e interpretativo, que tem objectivos e normas diferentes do que define a investigação científica: não se procura testar hipóteses mas há "testagem" das ideias e estruturas conceptuais (2006, p. 636) pelo método da comparação constante. Se há fragilidade é de todo o paradigma, o desenvolvimento da GT não pode ser feito mecanicamente e o alcance da saturação depende explicitamente da decisão do investigador (paradigma interpretativo) e de critérios pragmáticos. " The signals of saturation, which include repetition of information and confirmation of existing conceptual categories, are inherently pragmatic and depend upon both the empirical context and the researcher’s experience and expertise." (Ibidem , p. 639)

De qualquer modo, Gibbs, no vídeo referido acaba por apontar os números de 20 e 30 entrevistas e, no caso da abordagem fenomenológica, 15 entrevistas como já sendo aceitável …. O positivismo enraizado em nós ou mais algo?



Fontes

Ghiglione, R., & Matalon, B. (1992). O inquérito: teoria e prática. Oeiras: Celta Editora.

Guerra, I. (2006). Pesquisa qualitativa e análise de conteúdo. Lisboa: Principia.

Suddaby, R. (2006). From the editors: What grounded theory is not. The Academy of Management Journal, 49(4), 633–642. doi:10.1007/s11606-011-1713-x

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